A dor física afeta a pessoa no seu contexto biopsicossocial, interferindo na sua capacidade produtiva. Pode acarretar incapacidade temporária ou permanente para o trabalho, as atividades da vida diária e a participação social.
A dor pode ser classificada em aguda e crônica.
A dor aguda é um sintoma de alerta, sendo transitória e relacionada a trauma, infecção ou inflamação. Já a dor crônica é um processo de longa duração e que persiste além do tempo necessário de cura, sendo uma causa de incapacitação de quem a vivencia.
A Associação Internacional par o Estudo da Dor (IASP) define dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável.
Sendo então uma experiência física e emocional, a dor tem um caráter subjetivo provocando respostas ansiosas por funcionar como um alerta de que algo está errado desencadeando reações de luta e fuga. Quando a dor é persistente promove respostas depressivas no individuo. Isto por que o sofrimento inicial que não encontra uma resposta de melhora do quadro doloroso gera sentimentos de desesperança e medo.
Tem-se evidenciado uma frequente associação entre dor crônica, depressão e transtorno de ansiedade. É comum as pessoas com dor crônica se nomearem deprimidas, pois associam sua tristeza às restrições vividas pela dor. A ansiedade pode estar associada a comportamentos disfuncionais que geram prejuízos sociais, emocionais e funcionais.
Tanto a depressão quanto a ansiedade precisam ser tratadas, e as vezes até medicadas, independentemente do quadro de dor.
O Psicólogo tem um olhar biopsicossocial sobre o fenômeno doloroso porque entrelaça a cognição, a emoção e o comportamento diante dessa dimensão do físico.
O objetivo da TCC no tratamento do paciente com dor crônica é:
- identificar as suas crenças disfuncionais relacionadas ao processo álgico,
- auxiliar na capacidade de avaliar os pensamentos e sentimentos negativos em relação ao processo da dor que provocam a manutenção de comportamentos inadequados,
- reestruturar as crenças, comportamentos e atitudes disfuncionais diante do adoecimento,
- encorajar uma direção para busca de novas estratégias comportamentais e uma percepção mais funcional diante do seu quadro álgico,
- e desenvolver recursos para aprender a lidar com a cronicidade da dor.
A pesquisa realizada por Cano e colaboradores mostrou que as crenças dos pacientes sobre sua dor estão relacionadas com a regulação da dor e os resultados do tratamento.
Pacientes com dor crônica tendem a apresentar respostas catastróficas diante do quadro de dor, fazendo com que aumente a intensidade da dor.
As principais crenças que atormentam o paciente com dor crônica são:
- encontrar-se em um estado sério de saúde e debilitante,
- não tem controle sobre a dor,
- a dor é uma desculpa aceitável para negligenciar as responsabilidades profissionais, pessoais e sociais,
- nenhum tratamento pode ser aplicado,
Para um resultado efetivo no tratamento do paciente que sofre de dor crônica se faz necessário um trabalho multiprofissional com uma perspectiva interdisciplinar. Não basta a união de vários especialistas. É necessário um processo coletivo de conhecimento, um sistema coordenado e cooperante, com discussões sobre a ação, de uma forma avaliada e planejada.
A intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental no tratamento de pessoas com dor crônica
1 - Psicoeducação : A intervenção inicia-se com a psicoeducação sobre a TCC e a dor crônica. Esse é um importante por possibilitar que o paciente compreenda o caráter subjetivo da dor e as diferentes implicações que a dor tem para cada um. Assim o paciente tem a possibilidade de compreender o que aumenta e o que diminui sua dor, possibilitando que ele identifique, questione e modifique comportamentos e pensamentos disfuncionais.
2 - Automonitoração : O paciente é instruído a fazer registro, através de uma tabela, da intensidade da dor, a identificação do seu estado de humor, os medicamentos utilizados, a qualidade do sono e as atividades desempenhadas ao longo do dia. O objetivo dessa automonitoração é a compreensão real de sua vivência cotidiana para que possa modificar hábitos rotineiros, pensamentos e sentimentos disfuncionais.
3 - Registro de Pensamentos Disfuncionais: Tendo conhecimento da Tríade Cognitiva ( evento gera um pensamento que nos remete a um sentimento e então define o comportamento.) o paciente tem a possibilidade de identificar e reconhecer a forma distorcida de seus pensamentos frente aos fatos vivenciados e perceber os sentimentos que esses pensamentos provocam, reconhecendo as atitudes que tem tomado diante desses pensamentos e sentimentos.
4 - Treinamento em Resolução de Problemas : essa é outra técnica utilizada. O paciente é estimulado a identificar o problema, considerar todas as soluções possíveis, encontrar a viabilidade de cada solução, escolher uma alternativa, definir os passos para a solução escolhida, executar a solução e avaliar a efetividade da solução.
5 - Utiliza-se também outras técnicas como Técnica da Distração ( retirar o foco da sua dor) Técnica da Assertividade (mudar a forma como o paciente se vê) e Relaxamento Muscular Progressivo (identificar os sinais que disparam a dor).
O importante é que o indivíduo possa se compreender de forma assertiva dentro do contexto dessa vivência com a dor crônica.
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